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    Fonte: Grupo Cultivar – https://www.grupocultivar.com.br/artigos/como-monitorar-nematoides-na-cultura-da-soja

    A cultura da soja é afetada por diversas espécies de fitonematoides, especializados em se alimentar do sistema radicular das plantas, com prejuízos ao seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. No Sul do Brasil esta realidade não é diferente, com ataques de Meloidogyne javanica, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e a detecção recente de Rotylenchulus reniformis no Rio Grande do Sul

    A cultura da soja tem sofrido freqüentes perdas, decorrentes do ataque de fitonematoides. Esses microrganismos são especializados em se alimentar do sistema radicular, interferindo diretamente nos processos fisiológicos da planta, comprometendo o desenvolvimento vegetativo e consequentemente o reprodutivo. As principais espécies associadas à diminuição da produtividade da cultura da soja são os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis).

    Atualmente estas espécies encontram-se amplamente distribuídas em vários estados brasileiros, principalmente em áreas com o cultivo da soja. Na região central do Brasil, a ocorrência e distribuição desses fitonematoides encontram-se bem mapeadas, através de levantamentos realizados por pesquisadores na Região. Embora seja tarefa difícil de mensuração, relatos apontam perdas provocadas pela espécie na ordem de 10% a 50%, podendo variar devido a fatores bióticos e abióticos.

    Os sintomas nas plantas infectadas por fitonematoides podem variar desde a formação de engrossamento no sistema radicular, tidos como galhas, diminuição no volume e crescimentoe em alguns casos a destruição. Esse complexo de injúrias compromete o funcionamento fisiológico da planta. Na lavoura, os sintomas ocorrem em manchas ou reboleiras, formadas por plantas amarelecidas seguidas de crescimento irregular.

    A erradicação ou eliminação dessas espécies, quando estabelecidas em áreas de cultivo, praticamente se torna inviável principalmente pela questão do custo. Deve-se optar por medidas combinadas que possibilitem a manutenção das populações próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. Um dos grandes fatores que vêm contribuindo para o aumento dos problemas com fitonematoides, geralmente passa pelo não conhecimento por parte dos produtores ou pelo fato de os sintomas da ação dos nematoides no sistema radicular acabarem sendo creditados a qualquer outra injúria de ordem biótica ou abiótica, comprometendo, assim, em curto espaço de tempo, sua produção.

    Pensando em obter informações sobre a ocorrência de fitonematoides associados à cultura da soja na região Sul do país o Instituto Phytus (localizado no Rio Grande do Sul), nos anos agrícolas de 2012/13 a 2013/14, realizou coletas em alguns municípios da região, com o objetivo deverificar a ocorrência das principais espécies causadoras de danos em soja.

    Os resultados obtidos evidenciaram a presença de quatro espécies capazes de causar danos na cultura da soja. O nematoide formador de galha (Meloidogyne javanica), o nematoide do cisto da soja Heterodera glycines, o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis)Sendo destaque as duas primeiras espécies, pois apareceram com mais frequência sobre níveis elevados nas amostras de solo e raiz.

    Nos municípios amostrados o nematoide das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus esteve presente em quase todos, no entanto, em níveis baixos e médios. Este nematoide está amplamente distribuído em regiões de climas tropicais e subtropicais. Isto se deve ao seu alto grau de polifagia (habilidade de parasitar e reproduzir-se em um elevado número de plantas, principalmente de importância econômica, sejam anuais ou perenes). Na região do Mato Grosso, a incidência desse nematoide em levantamento realizado por (Ribeiro et al, 2010) apontou presença em torno de 96,4%, causando redução de 30%-50% em áreas infestadas.

    Em um dos municípios amostrados foi observadaa presença do nematoide Rotylenchulus reniformis, em valores acima sete mil (ovos + J2 + adultos) em 200cm³ de solo, em área com o cultivo de soja em sistema de plantio direto, com gramíneas no inverno. No entanto, este é o primeiro registro da ocorrência desse nematoide na região Sul do país. Cabe salientar a capacidade de adaptação a diferentes tipos de solos, e a habilidade de entrar em anidrobiose (mecanismo fisiológico que induz o nematoide a reduzir drasticamente o metabolismo, permanecendo em estado de quase ametabolismo), em condições ambientais desfavoráveis à sua sobrevivência. Embora R. reniformis seja frequentemente relatado causando perdas normalmente em áreas com longo histórico de cultivo de algodão (sua principal cultura), nesses últimos anos vários estudos vêm apontando frequentes danos devido ao parasitismo desse nematoide na cultura da soja.

    Embora ocorram na maioria das vezes em baixa e média densidade populacional no solo, este cenário requer alguns cuidados, pois esses microrganismos são especializados em alimentar-se diretamente das raízes, podendo rapidamente aumentar sua densidade populacional no solo em curto período de tempo, principalmente se o cultivo de variedades de soja suscetível for precedido também de outra cultura que permita a alimentação e reprodução desses nematoides.

    Com o passar do tempo o não cuidado com o sequenciamento (rotação/sucessão) ou a utilização do monocultivo de culturas hospedeiras aos nematoides certamente favorecerá o estabelecimento ou o agravamento dos problemas em determinadas áreas. Em alguns casos, o principal e primeiro aspecto percebido pelo produtor, e quase sempre não creditado à presença de nematoides, é um leve declínio na produtividade, ano a pós ano. O outro aspecto importante é quando ocorre em áreas de cultivo uma série de eventos como a diminuição no tamanho de plantas, seguido de amarelecimento na parte aérea, com murchamento e queda de folhas, normalmente disposto em manchas ou reboleiras (circulares). Estes sintomas são, em muitos casos, atribuídos à compactação do solo, deficiência nutricional, mancha de calcário, encharcamento ou até mesmo a outro complexo de patógenos (fungos, bactéria, vírus, entre outros).

    A falta de conhecimento dos produtores sobre a presença dos nematoides nas lavouras ajuda na sua disseminação, principalmente através de práticas rotineiras com implementos agrícolas e veículos. De certa forma esses maquinários movimentam o solo, com isso carreiam partículas contendo nematoides aderidos nas rodas e latarias, levando-os para outras áreas. Isto implica também na introdução de espécies oriundas de outras regiões do Brasil. Por exemplo, produtores que plantam ou alugam seus maquinários para semeadura ou colheita em outras regiões, correm o grande risco de introduzir essas espécies em suas próprias áreas.

    Diagnose

    Para a diagnose os sintomas clássicos expressos na parte área geralmente são resultado do severo ataque no sistema radicular, que normalmente comprometem os processos de absorção e translocação de água e nutrientes pela planta. O crescimento irregular, o amarelecimento nas folhas, murchamento em períodos quentes e secos do dia e quedas prematuras de folhas se caracterizam como os princípios norteadores para diagnose, podendo variar de acordo com a espécie.

    Os sintomas causados pelo nematoide do cisto da soja Heterodera glycines

    Este nematoide foi detectado no Brasil na safra 1991/92 e atualmente esta presente em vários estados (Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Tocantins e Maranhão). No Brasil, já foram encontradas 11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). O nematoide do cisto da soja Heterodera glycines é responsável por perdas da ordem de 10% a 30%. No entanto, dependendo do tipo de solo e da densidade populacional, podem atingir até 70%.

    No Rio Grande do Sul, as raças 3, 5 e 6 já foram relatadas em três municípios da região por Dias et al (2009). Entretanto, novos estudos sobre a ocorrência de outras raças de H. glycines devem ser realizados, pois, devido ao não cuidado ou ao conhecimento por parte dos produtores sobre o potencial de disseminação por parte do trânsito de veículos e implementos agrícolas, de uma região para outra, há uma grande possibilidade de introdução de novas raças desse nematoide na região.

    Sintomas (Reflexos)

    Normalmente as plantas sob o ataque do nematoide do cisto da soja H. glycines apresentam o porte reduzido, seguido de amarelecimento na parte aérea. Em casos de alta densidade populacional no solo, estes sintomas podem ser mais severos.

    Após a observação desses sintomas de parte aérea, o produtor deve arrancar de 3-7 plantas dentro dessas manchas (reboleiras) e observar o sistema radicular, de preferência com a cultura entre 25-45 dias após a semeadura. Em áreas infestadas poderão ser observadas as fêmeas de H. glycines na superfície das raízes de soja em seu estádio de desenvolvimento com uma coloração esbranquiçada.

    A observação direta no sistema radicular, após o período de 25-45 dias depois da semeadura, deverá ser bem mais cuidadosa, pois com o passar do tempo o nematoide completa seu ciclo de vida e sua tonalidade (cor) acaba ficando mais escura (marrom). Nessa fase ou período o produtor praticamente não conseguirá observar esses sintomas no sistema radicular, pois o cisto se desprende da raiz no momento do arranque das plantas. Cada cisto pode armazenar cerca de 100 a 300 ovos garantindo a sobrevivência do nematoide por aproximadamente oito anos no solo sem a cultura hospedeira, seguido de períodos adversos do ano como altas e baixas temperaturas, incluindo a dessecação.

    A eliminação de H. glycines em áreas infestadas é muito difícil. O produtor ou responsável técnico, ao observar esses sintomas em sua lavoura (parte aérea e raiz), deve coletar amostras e enviar a um laboratório de nematologia o mais rápido possível, para obter quantificação de cistos por 100cm³ de solo e a de ovos e formas juvenis de H. glycines.

    Os sintomas

    Várias são as espécies do gênero Meloidogyne capazes de causar danos a culturas da soja. As mais frequentes são Meloidogyne javanicaM. incognita e M. arenaria. A espécie Meloidogyne javanica possui ampla gama de plantas hospedeiras, sendo a maioria de importância econômica, como soja, milho, feijão, batata, cenoura, tomate, cana-de-açúcar, fumo, entre outras. Os danos decorrentes do parasitismo desses nematoides dependem do nível populacional presente na área, associados à suscetibilidade da cultura e condições climáticas favoráveis. As perdas normalmente estão entre 10%-30% da produção e dependendo da cultura podem chegar a 90%.

    Sintomas (Reflexos)

    O sintoma do ataque deste nematoide normalmente ocorre em reboleiras que, muitas vezes, passam despercebidas, pois as culturas lentamente diminuem em vigor e produtividade. Alguns sintomas que a planta expressa sob o ataque desse microrganismo tendem a ser identificados pelo produtor, que normalmente pode observar um leve subdesenvolvimento (tamanho desigual de plantas), seguido de amarelecimento da parte aérea, facilmente confundidos com deficiência nutricional. As folhas podem apresentar manchas cloróticas e necrose entre as nervuras, conhecidos como folha “carijó” e em alguns casos ocorre desfolha (queda das folhas), e em períodos mais quentes do dia, murchamento na parte aérea.

    Sintomas (Diretos)

    Os sintomas no sistema radicular são conhecidos como galhas, quase sempre presentes nas raízes infectadas por Meloidogyne spp, dando aspecto tumoral, com engrossamentos anormais, bem visíveis. Se realizar o corte na região das galhas, transversalmente, podem ser observadas fêmeas do nematoide, de coloração branca. Cada fêmea produz em torno de 200 ovos – 400 ovos por ciclo completo na cultura. Parte dos ovos é depositada em uma massa mucilagionosa que garante a sobrevivência por aproximadamente seis meses a um ano no solo. É importante frisar que em algumas plantas como milho, arroz, cana-de-açúcar, trigo entre outras, esses sintomas podem ser ausentes ou bem reduzidos, de difícil visualização. De maneira geral, o parasitismo de Meloidogyne pode causar a espoliação de nutrientes durante sua alimentação, a redução na eficiência da absorção de água e nutrientes pela planta, alteração no crescimento das raízes e até mesmo a destruição dos tecidos.

    A observação desses sintomas não deve ser tomada como medida única de identificação, pois servem apenas como indício da problemática e direcionamento para o gênero Meloidogyne, sendo necessário o envio das raízes para um laboratório de nematologia o mais breve possível, para confirmação. A identificação da ocorrência em nível de campo deve sempre ser acompanhada de análise em laboratório.

    Medidas gerais para o manejo de nematoides

    O sucesso do manejo de fitonematoides passa primeiramente pela identificação e quantificação das espécies presentes na área. O manejo e controle de fitonematoides não são tarefas fáceis, pois dependendo do nível de infestação e a espécie presente na área, cada cenário ou situação exigirá adoção de uma medida diferente. Cabe ressaltar que a dificuldade aumenta principalmente em áreas com mais de uma espécie. Nesses casos os esforços são ainda maiores.

    De maneira geral, a rotação ou sucessão com plantas não hospedeiras, ou a utilização de hospedeiras desfavoráveis com baixo FR (fator de reprodução do nematoide), associada a temperaturas inferiores a 12°C, pode reduzir a densidade populacional do nematoide no solo, pois impede o contado patogênico com as raízes. A utilização de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos e biológicos, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo. Quando somados, podem apresentar resultados ainda mais satisfatórios.

    Paulo Santos, Gracieli Rebelato Instituto Phytus; Diego Dalla Favera, Renan Dal Sotto, Ricardo Balardin, Universidade Federal de Santa Maria; Marcelo Gripa Madalosso, Instituto Phytus/Univ. Reg. Integr. – Santiago

    Artigo publicado em dezembro de 2014, na edição 187 da Cultivar Grandes Culturas.